Conheça mais sobre a nova sinalização na rua Emílio Tallmann
A colunista Márcia Pontes, educadora especialista em trânsito fala sobre a polêmica sinalização implantada na Rua Emílio Tallmann no entroncamento com a Rua Centenário da região sul de Blumenau, onde já foram registrado inúmeros acidentes, tanto antes quanto depois das mudanças efetuadas. Veja o que ela diz em seu mais recente artigo produzido para o público do Notícias Vale do Itajaí:
Os moradores fizeram protestos, fecharam a rua, chamaram à atenção e pediram faixas elevadas para tentar colocar um freio nos acidentes no cruzamento entre a rua Emílio Tallmann e Centenário. Os responsáveis pela sinalização viária foram ao local, fizeram estudos técnicos e providenciaram uma solução, mas parece que a nova sinalização não agradou alguns moradores. O mais comum de se ouvir é “a gente não pediu isso” para reforçarem os pedidos por faixas elevadas ou lombada eletrônica. Ocorre que as coisas não são assim tão simples do ponto de vista técnico e nem todos os pleitos da população são permitidos diante do que dizem o Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito e as Resoluções do Contran. Faixa elevada para o local esquece: está fora dos padrões obrigatórios segundo a legislação de trânsito. Lombada eletrônica pode parecer uma solução simples, mas inviável para o local. Diante disso foi instalada uma sinalização nova de traffic calming (para acalmar o tráfego) que conforme resultados de estudos científicos em outras cidades e capitais força o motorista a reduzir a velocidade entre 25% e 38%.
De modo geral, quando uma via não é sinalizada o local torna-se uma terra de ninguém: todo mundo faz o que quer conforme a sua conveniência. Já, quando uma via recebe uma sinalização que ainda não se tinha visto na cidade, é como se tornasse um corpo estranho que inflama os moradores que estranham a novidade por desconhecê-la e a rejeitam. O objetivo do traffic calming é adaptar o volume, velocidade e comportamento para as funções primordiais das ruas: o deslocamento de modo seguro, com fluidez e segurança para evitar acidentes. Não é para se adaptar às exigências dos veículos motorizados.
Entenda a nova sinalização
Trata-se das Marcas de Canalização como Redutor de Velocidade (MCRV), também conhecida como sinalização tipo lápis ou dispositivo de canalização de tráfego tipo lápis, muito utilizado como moderadores de tráfego na Europa, Austrália e América do Norte. Além de diminuir as velocidades nas áreas residenciais, sinalizações como esta reduziram entre 60% e 78% os acidentes na França e na Dinamarca (CRUZ, 2006).
Quando a sinalização tipo lápis foi instalada em ruas de Porto Alegre, São Paulo e de Belo Horizonte também desagradou alguns, sobretudo, aos motoristas, que se viram obrigados a reduzir a velocidade naqueles pontos. Mas, o importante é que a quantidade de acidentes e as gravidades das lesões diminuíram muito.
Em sua parte externa a pintura funciona para causar o efeito de estreitamento da pista que leva os motoristas a reduzirem forçosamente a velocidade e sua parte interna lembra um lápis. Sobre a pintura são colocados tachões refletivos e a largura chega a ser duas vezes a largura dos pneus dos veículos para assegurar a passagem sem risco de encostar nos tachões. Se o motorista vier em baixa velocidade, claro!
Diz-se “canalização” porque as marcas pintadas no solo canalizam o trânsito. No caso de outras marcas de canalização como o zebrado amarelo, indica a área do asfalto sem utilização para os motoristas. Segundo o Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, as marcas de canalização são utilizadas para orientar e regulamentar os fluxos de veículos em uma via, direcionando-os de modo a proporcionar maior segurança. Moderando a velocidade controlam-se os excessos, reduz a quantidade de acidentes e a gravidade.
Um dos dispositivos moderadores de tráfego mais conhecidos pela população para o controle de velocidade são as ondulações transversais (lombadas ou quebra-molas), também sugerido por alguns moradores, mas que estão fora das exigências da Resolução 600/2016 do Contran. Em todo o mundo há uma tendência a evitar as lombadas físicas ou utilizá-las com cautela, pois prejudicam em curto prazo a suspensão veículos, aumentam a emissão de poluentes, tiram tempo precioso dos veículos de resgate e emergência, acabam comprometendo a fluidez porque deixam o trânsito lento e danificam o pavimento onde estão colocadas devido ao peso de veículos pesados. Também se descarta nas vias onde há tráfego de veículos de transporte coletivo.
A lombada eletrônica ou Redutor Eletrônico de Velocidade (REV) deve obedecer os critérios específicos da Resolução 396/11 do Contran para ser implantada e na rua Centenário, dentre outros impedimentos, no ponto em que está a nova sinalização, perde a sua finalidade por ser um trecho muito curto e onde os motoristas já devem reduzir a velocidade próximo ao cruzamento. Na rua Emílio Tallmann os estudos técnicos também apontam a inviabilidade.
As faixas elevadas que a população tanto pede são regulamentadas e devem obedecer aos critérios da Resolução 495/2014, que não são aplicados naquele local entre a Emílio Tallmann e rua Centenário: só podem ser colocadas em vias onde a velocidade é de 40km/h, não podem ser instaladas em curvas e nem onde o solo é muito inclinado. As razões são óbvias: o solo já é elevado e se colocar mais uma elevação, ficará acima da linha da calçada, o que é proibido e representa enorme risco de acidentes. Além disso, a finalidade de faixas elevadas não é reduzir velocidade, mas sim, tornar a travessia dos pedestres e ciclistas mais segura.
Sinalização reduz entre 25% e 38% a velocidade
Restou aos técnicos da Secretaria de Planejamento executar uma sinalização que pode ser novidade em Blumenau, mas que há anos vem tendo resultados altamente positivos para reduzir a velocidade em outros países e no Brasil, em cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo, Guarulhos, Campinas e outras: a sinalização tipo lápis ou a utilização das Marcas de Canalização como Redutores de Velocidade (MCRV).
Nestas cidades os estudos científicos publicados atestam redução entre 25% e 38% da velocidade dos veículos e aumentam a segurança de ciclistas e pedestres nestes locais. (ARTUSO, 2016). Mas, então, porque ainda há acidentes no local onde ela foi instalada em Blumenau? Porque a instalação é recente e toda nova sinalização modifica o comportamento das pessoas que até então tinha estabelecido “o modo como fazemos as coisas por aqui.” Enquanto esse modo não for revisto para que respeitem a nova sinalização os acidentes v~são continuar sendo provocados.
Assim, quem trafega pela Emílio Tallmann sentido centro segue reto, mas tem que pisar leve e usar o redutor de velocidade mais eficiente que existe e que está ao alcance do seu pé: o pedal de freio. Já quem vem do Centro para a Emílio Tallmann e vai entrar na rua Centenário deve sinalizar, aguardar e seguir pela área estreitada da pista de rolamento onde passa somente um veículo. Já quem desce a rua Centenário para pegar a rua Emílio Tallmann encontra a sinalização tipo lápis com uma linha branca transversal denominada linha de retenção. Como o próprio nome diz, é para reter os veículos, para que parem antes da linha de retenção se necessário for com o intuito de redução de velocidade, já que se aproximam de um cruzamento sem muita visibilidade pelas próprias características da via. Há uma descida onde a lei da gravidade já empurra os veículos para baixo e onde há uma curva. A ideia é que os condutores já venham reduzindo e diminuindo a velocidade.
Tudo indica que a solução que os moradores aguardam para o local não depende só de sinalização ou colocação de elementos ou barreiras físicas nas vias, mas, principalmente, dos cuidados que os motoristas deixam de ter no local, dentre eles, guardar a distância de segurança e aliviar o pé. Trânsito é comportamento e o elemento humano é o mais difícil de controlar. Pelo menos, do ponto de vista técnico de quem planeja e elabora a sinalização.
Lembro de quando foram pintas as Linhas de Redução de Velocidade (LRV) na rua Governador Jorge Lacerda e em seguida um motorista saiu da pista e beijou o poste. Adivinha a quem se atribuiu a culpa? À nova sinalização, claro. As leis da Física relacionadas ao excesso de velocidade sequer foram cogitadas.
Poucos dias após a colocação da nova sinalização na Emílio Tallmann com a rua Centenário houve uma queda de motocicleta: há quem diga que a culpa foi da nova sinalização e dos tachões. Há quem tenha testemunhado que o condutor da moto estava colado na traseira de um carro e ficou sem visibilidade para as novas marcas de sinalização, o pneu encostou nos tachões e causou a queda.
Uma coisa é fato: cabe ao município por meio de seus técnicos executar a sinalização das vias de forma adequada, principalmente quando em determinado local há grande ocorrência de acidentes. Mas, não se pode ignorar as responsabilidades dos condutores em respeitar a velocidade da via, reduzir em cruzamentos, redobrar os cuidados quando há curvas e pouca visibilidade. Manter a distância de segurança do veículo à sua frente e buscar o olhar do outro condutor sempre antes de iniciar qualquer manobra é fundamental e algo que depende de cada motorista.
Que o local é de relevo desfavorável, tem uma curva que tira a visibilidade e que a prática comum de muitos motoristas é acelerar e passar pelo cruzamento sem cuidados todos já sabem. O antídoto para esse veneno é redobrar a cautela para que a nova sinalização surta o efeito desejado e sempre observar o que diz o CTB.
> Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.
> Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra deverá certificar-se de que pode executá-la sem perigo para os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua velocidade.
> Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, o condutor do veículo deve demonstrar prudência especial, transitando em velocidade moderada, de forma que possa deter seu veículo com segurança para dar passagem a pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência.
Para as vias existe a sinalização, a colocação de barreiras físicas que a legislação permite, mas para a pressa e o excesso de velocidade dos condutores a única coisa que vai funcionar é a mudança de comportamento. Até porque não existe sinalização, barreiras físicas ou eletrônicas que evitem a distração, a pressa e a falta de cuidados.
BIBLIOGRAFIAS
ARTUSO, B. L. Moderação de tráfego: análise de medidas adotadas em Porto Alegre. 2016. 66 p. Monografia (Trabalho de Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRG, 2016.
CRUZ, M. M. L. Avaliação dos impactos de restrição ao trânsito de veículos. 2006. 143 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Campinas, SP, 2006.
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