Polícia Civil conclui inquérito policial sobre ataque em creche de Blumenau
O governo do Estado resolveu fazer a coletiva de imprensa na Capital de Santa Catarina e não em Blumenau, terceira maior cidade catarinense, onde ocorreu o pior ataque em uma creche já registrado no Brasil, deixando de oportunizar a imprensa local para perguntas sobre o inquérito. Cabe destacar que foi a imprensa local quem retratou com muita responsabilidade e respeito todas as informações e pessoas envolvidas no caso.
Apesar disso, o delegado geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel agradeceu a imprensa e disse que é um momento difícil para ele, pois a cada vez que vê sua filha de 5 anos, lembra das crianças vítimas do ataque. Informou que Jorginho Mello (PL) tem se demonstrado um parceiro das forças de segurança no Estado, “Jorginho tem nos respaldado e dado todo o apoio, para que possamos ter cada vez estrutura para combater o crime em Santa Catarina”, destacou.
“Desde o dia 5, estamos sofrendo uma enxurrada de ‘fake news’ e isso nos preocupa muito, porque poderíamos estar investigando crimes, mas temos que investigar notícias falsas, por isso é importante que as pessoas não compartilhem essas situações que causam pânico e mais estresse numa sociedade que já vem sofrendo com os mais diversos problemas”, informou o delegado geral, sobre a insistência de pessoas compartilharem através de aplicativos de mensagens e redes sociais informações que não são fatos.
Durante a coletiva, foi exposto que mais de 10 operações foram desencadeadas nos últimos dias por conta de ameaças contra instituições de ensino. Sobre a sanidade mental do autor do crime no CEI Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, o delegado geral comentou que será uma discussão do processo judicial, “Será traçado o perfil psicológico e o comportamento desse autor nas redes sociais para buscar evitar outros ataques como este“, comentou.
Após a apresentação feita por Ulisses, a palavra foi passada para o delegado Ronnie Reis Esteves, coordenador da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau, que trouxe alguns detalhes sobre o inquérito. Ele lembrou que o autor do crime foi voluntariamente se entregar para a Polícia Militar (PM) e que em nenhum momento ele se negou a apontar detalhes do crime.
“A gente conseguiu apontar toda a rotina dele naquele dia, desde o momento que acordou até se apresentar para a PM. No primeiro momento, foi ouvida a mãe dele, que relatou que o autor sempre foi calmo, respeitou a mãe, que criou ele sozinho, até que ela arrumou um companheiro, que sempre o ajudou. Entretanto, após ter o primeiro contato com cocaína o seu comportamento começou a mudar”, comentou Dr. Ronnie Esteves.
Esteves também comentou como a mãe percebeu que o filho estava diferente, já que ouvia barulhos que não existia e que a partir do uso de drogas começou a ter alucinações. “Ele foi morar com um tio por 30 dias, depois disso voltou para casa da mãe e do padrasto e após dar ‘bom dia’ aos dois, pegou um canivete e perfurou o pescoço do padrasto, que caiu e foi perfurado por mais duas vezes”, relatou. Depois desse crime ele chegou a ser internado para recuperação química.
Ainda de acordo com Dr. Ronnie, o padrasto se separou da mãe do autor, mas mesmo assim, a vítima passou a fugir do autor, “ele já estava vendo coisas, quando se falava em polícia e padrasto”, salientou. Sobre o atentado, ele aponta que um policial militar teria sido o mandante, “Duas semanas antes, ele se reuniu com um amigo em uma praça e conversou sobre a machadinha, padrasto e o policial militar e afirmou que faria algo grande”, disse Ronnie.
“O referido policial militar, foi ouvido, ele é um lutador de jiu-jitsu. Esse policial militar é uma pessoa íntegra, do bem, um competidor e o autor fez academia onde o policial treinava, e o amigo relatou que o autor tinha uma admiração por esse policial, que sequer teve contato com ele… A gente acredita, que isso é mais uma coisa da cabeça dele”, comenta o delegado Ronnie.
Sobre o questionamento da motivação do crime: “Ele até fala que houve ameaça, mas em picos de estresse e que fez aquilo para mostrar para o policial que ele também é corajoso!. Ele ainda diz como fez e que não se arrepende e que faria de novo”, detalha o coordenador da DIC. “Quando perguntei das crianças, ele respondeu que escolheu elas porque correm devagar e teria condições de alcançá-las”.
“Uma das crianças olhou para ele, riu para ele, achando que era uma brincadeira e ele acabou atingindo essa criança fatalmente”, falou Ronnie. “É uma pessoa que de fato não tem nenhuma condição de viver em sociedade… nenhuma condição será suficiente para reparar o que ele fez”, frisou o delegado comentando que está claro que o autor era uma pessoa antes do uso da droga e se tornou um monstro depois.
Em seguida, a palavra foi passada para o delegado Rodrigo Reitz, que comentou sobre os elementos comprobatórios para apresentação ao Ministério Público sobre a denúncia do autor para o Poder Judiciário, com detalhes da dinâmica total do crime. Para isso, foram analisadas a mais diversas imagens de câmeras do percurso feito pelo autor no dia do crime. Reitz trouxe inclusive os instrumentos utilizados como arma pelo assassino.
As 8h03min, do dia 05, ele saiu da casa dele e foi até duas creches localizadas na rua Benjamin Constant, esquina com a rua José Fischer, no bairro Escola Agrícola – nenhuma delas possui câmeras de segurança – ele resolveu não invadi-las pois os muros eram muito altos. “Por volta das 8h08min ele retorna pela rua Benjamin Constant e vai até a academia no bairro Itoupava Seca, chegando por volta das 8h16min”, detalha Reitz.
Depois de passar pelas duas creches da Benjamin Constant, no bairro Escola Agrícola – próximo de sua residência – ele foi até a academia e realizou, inclusive, o pagamento da mensalidade. Por volta das 8h39min saiu da academia e seguiu até o CEI Cantinho Bom Pastor, onde analisou o cenário e verificou se as crianças seriam acessíveis. “Ele parou em frente à creche, olhou por cima do muro, saiu da motocicleta, fez um alongamento, abriu o baú da moto, pegou a machadinha e pulou o muro da creche. Vinte segundos depois, retornou pelo mesmo muro”, relatou Dr. Raitz.
Do local do crime, ele fugiu por um trajeto não usual, sentido bairro Velha Grande e depois retornou até o posto de combustível em frente ao Batalhão da Polícia Militar, “Ele comprou uma água e cigarro, permaneceu no posto por dois minutos e trinta segundos, saiu do posto e foi até o Batalhão da Polícia Militar para se entregar”, trouxe com detalhes o delegado Rodrigo.
Confira a coletiva na íntegra:
Foto: Jefferson Santos/Mesorregional.