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Identifique o seu animal para evitar atropelamentos

Por Márcia Pontes, colunista do Notícias Vale do Itajaí:

 

Esta semana apareceu no portão da minha casa uma filhotona de Pit Bull que aparentava ter os seus 3 ou 4 meses. Extremamente dócil, brincalhona, super atenta a cada movimento, de coleira, bem tratada e super carinhosa, parecia querer dizer: “eu convivo com crianças.” Ofereci comida ela não quis; ofereci água e ela quis “nadar” dentro da bacia. Apesar da reprovação dos vizinhos e de pessoas próximas (imagina, Pit Bull é uma fera!), como vi que ela se entendia bem com o meu Beagle idosinho, coloquei-a para dentro do cercado para que ficasse protegida de um atropelamento na rua José Reuter. Começava então, a maratona de pedidos de ajuda: fotos e vídeos em redes sociais, marcar os amigos para que compartilhassem, ligar para as ONG’s de proteção animal, achar alguém que pudesse abrigá-la até os donos a encontrarem.

 

O que eu não sabia é que o animal não era branco, mas sim, albino, e que é altíssima a probabilidade de um cão albino ser surdo. Agora, imaginem como seria fácil o resgate desse animal pela sua família se tivesse o número de telefone na coleira e o aviso de que a Pit Bull era surda!  O mesmo tipo de informação com telefone também ajudaria muito no caso de animais diabéticos, cardíacos, cegos de um olho, em tratamento de saúde, se pertence a crianças, e por aí vai.

O que as pessoas e os motoristas precisam saber é que nem todo animal solto nas ruas foi abandonado ou não tem dono. Infelizmente, muitos proprietários irresponsáveis e desalmados dirigem ou caminham quilômetros com o animal e o abandonam em bairros distantes. Jogam na rua ou “desovam” cadelas e seus filhotinhos recém-nascidos. Sim, em muitos casos as feras não são os animais, mas, esses seres que não sabem de que espécie e raça são (humano é que não pode ser).

Muitos animais têm família, casa, dono, são bem cuidados, protegidos e amados, mas fogem porque acharam uma brecha no portão ou na cerca. Começam a seguir os diferentes cheiros deixados por outros cães e gatos e se perdem. Os de raça são prontamente recolhidos no melhor estilo “achado não é roubado” e são até mesmo vendidos, deixando para trás idosos e crianças chorando e em desespero.

Quando um motorista vê um cachorro na rua a primeira reação é buzinar, mas, um animal surdo não escuta e vai locomover-se sem perceber, pela audição, os sons do ambiente. Ele não ouvirá a buzina, nem o latido de outros cães, tampouco os gritos de aviso de pedestres, aquele tradicional “sai da rua, cachorro”.  Ao ver que se trata de um Pit Bull mesmo filhote a reação de muitos pode ser em agredir, jogar pedras e o que tiver pela frente. Acreditem: quando recolhi o animal ao meu quintal para protegê-lo de um atropelamento enquanto buscava ajuda para achar o seu dono, o que não faltou foram os palpites: “tu é doida, isso é uma fera”, “Vai te morder”, “Vai matar o teu cachorro”, “solta ela na rua de novo”. Houve até quem se ofereceu para “dar uma voltinha” com a Pit Bull e abandoná-la na rua “mais prá cima”.

Muitas pessoas não fariam o que fiz pela Pit Bull e assim fiquei conhecendo mais um dos motivos pelos quais as pessoas se recusam a ajudar: eu coloco o cachorro para dentro do cercado, protejo ele de um atropelamento, mas e se eu não achar o dono e não puder ficar com o animal e nem soltar na rua de volta?  Primeira reação: liga para o Cepread, mas o Cepread não recolhe animais saudáveis, isso é tarefa de centro de zoonoses, a famosa “carrocinha”. Segunda opção: liga prá Aprablu, só que as voluntárias não têm mais espaço para abrigar em suas casas todos os animais que encontram abandonados nas ruas.

Confesso que foi minha primeira experiência tentando ajudar um animal perdido, pelo menos, a experiência de recolhê-lo ainda que provisoriamente por algumas horas. Felizmente, a mobilização pelas redes sociais deu certo e ainda no período da manhã a proprietária tinha encontrado a minha casa. Foi aí que fiquei sabendo que era a segunda fuga da Pit Bull, que ela é surda e que uma criança estava inconsolável e aos prantos.

Dependendo do tamanho do animal o atropelamento pode ter consequências graves também para o motorista como uma saída de pista, tombamento, capotamento ou choque contra o meio fio, postes, muros e outros tipos de objetos fixos. Há casos em que o corpo do animal fica encaixado em partes plásticas dos veículos, nas saias laterais, spollers e até no radiador.

Sem falar no sofrimento do animal que fica agonizando em via pública até a morte em um sofrimento que parece sem fim. Tudo isso poderia ser evitado se os proprietários anotassem na coleira de seus pets o número de telefone, o nome do animal, se é surdo, diabético, cardíaco, se toma medicação controlada, se tem outras doenças.

Para terminar, todos aqueles que tinham me recriminado por ajudar uma filhotona de Pit Bull branca que não era branca, mas albina, depois que souberam que ela era surda e, provavelmente, seria atropelada caso continuasse perambulando pelas ruas, mudaram de ideia. Ficaram espantados, outros disseram que não sabiam que existia cachorro surdo, e houve quem se envergonhasse de se ter oferecido para “dar uma voltinha” com o animal e abandoná-lo mais adiante. A conclusão? Ela seria atropelada, muito provavelmente, uma situação agravada ainda mais pela surdez.

Se você me acompanhou nesse texto até aqui e ama o seu animal de estimação, faça uma gentileza a si mesmo, à ele e à todos que se mobilizam para ajudar numa hora dessas: coloque uma plaquinha ou escreva bem forte na coleira do seu pet o número do seu telefone, o nome do animal e se ele é surdo ou tem algum tipo de doença. Isso vai facilitar muito para que os proprietários possam ser encontrados com rapidez e o seu animal não fique exposto ao risco de atropelamentos ou da incompreensão de muitos humanos que não sabem de que raça são tamanha a falta de compaixão para com os animais perdidos nas ruas.

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