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Aumento do Diabetes Tipo 2 entre crianças e adolescentes preocupa médicos

O crescimento da obesidade entre crianças e adolescentes, aliado ao sedentarismo e a hábitos alimentares inadequados, está provocando um fenômeno preocupante: o surgimento do diabetes tipo 2 (DM2) nessa população. “Até há alguns anos, o DM2 era exclusivo de pessoas mais velhas”, explica dra. Jacqueline Araujo, endocrinologista e coordenadora do Departamento de Diabetes Tipo 1 em Crianças e Adolescentes da Sociedade Brasileira de Diabetes.

A principal diferença entre o diabetes tipo 1 e o diabetes tipo 2 está na causa. No DM1, há uma falta de produção de insulina; já no DM2, o organismo desenvolve uma resistência à ação desse hormônio, mas, com o tempo, também há redução na produção.

O DM1 é mais comum na infância e adolescência, mas estudos recentes mostram um aumento do DM2 em crianças e adolescentes em vários países. A prevalência é maior nos Estados Unidos, especialmente entre descendentes afro-americanos e alguns grupos de povos nativos, como os Pima, no Arizona. Outros países com muitos casos são China e Índia, onde a alimentação mudou drasticamente nos últimos anos. Um estudo de 2021 revelou que, naquele ano, ocorreram 41.600 novos casos de DM2 em adolescentes no mundo.

A alimentação é a principal causa da obesidade e do surgimento do DM2”, acredita dra. Jacqueline. “A oferta de produtos industrializados é grande, com preços acessíveis a todas as classes sociais, e muitas famílias estão alimentando inclusive bebês com esse tipo de alimento, o que é totalmente contraindicado.”

Casos no Brasil

“Não temos um estudo epidemiológico no Brasil que mostre a incidência ou prevalência de DM2 em crianças e adolescentes, mas sabemos que ainda não é tão elevada quanto nesses países”, afirma a médica. “No entanto, há grupos e serviços de referência que apresentam trabalhos em congressos mostrando um número crescente de crianças com DM2.”

De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, em 2035 o Brasil poderá ter até um terço de suas crianças e adolescentes vivendo com obesidade. Os dados mais recentes, de 2020, mostram que aproximadamente 12,5% das meninas e 18% dos meninos no país têm obesidade. Até 2035, esses índices podem chegar a 23% e 33%, respectivamente.

Um levantamento do Instituto Desiderata, Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP) e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre o impacto econômico do excesso de peso na saúde pública, mostra que, em uma década, os gastos com internação de crianças e adolescentes com obesidade no SUS aumentaram 20%, passando de R$ 145 milhões, em 2013, para R$ 174 milhões, em 2022. Se adicionarmos gastos com atendimentos ambulatoriais e medicamentos, esse total chega a R$ 225,7 milhões.

Com o aumento da obesidade infantojuvenil, cresce também a preocupação com o DM2 nessa população. “Principalmente porque estudos feitos nos EUA mostram que o DM2 em crianças e adolescentes parece ser mais grave, com complicações como nefropatia (doença renal), complicações cardiovasculares e perda da visão surgindo mais rapidamente”, diz dra. Jacqueline. “Há crianças que, 1 ou 2 anos após o diagnóstico, já apresentam complicações que nos adultos demoram de 5 a 15 anos para aparecer.”

Os sintomas desta doença são semelhantes aos dos adultos, mas demoram mais para se manifestar. Sintomas típicos de DM1, como urinar frequentemente, beber água toda hora e perder peso, demoram mais para começar no DM2, então quando surgem já faz muitos anos que a criança tem a doença. “Por isso é indicado que toda criança com sobrepeso ou obesidade faça, rotineiramente, o exame de glicemia e, em alguns casos, também a hemoglobina glicada.”

Foto: Sandro Araújo / Agência Saúde-DF

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