A democracia e o ato de compartilhar
A tecnologia facilitou a união das pessoas e as coisas a serem compartilhadas. Na coluna sua coluna desta semana o professor universitário Leonardo Secchi fala sobre isto no Notícias Vale do Itajaí. Confira:
O surgimento de novas tecnologias associado à uma mudança de cultura tem provocado uma nova consciência na forma de consumo e de comportamento na sociedade. A onda agora é compartilhar.
Você certamente já dividiu uma viagem de carro, descolou uma carona, usou um desses aplicativos para transporte ou compartilhou um quarto, hostel, casa ou apartamento durante uma viagem…Ou então planejou caronas na empresa que reduziram tempo e custos para todos…Certo?
Para se ter uma ideia, nesta onda de compartilhamento, o aplicativo Uber realizou 4 bilhões de viagens em 2017, e mais de 300 milhões de hóspedes já encontraram uma acomodação por meio do Airbnb (serviço online comunitário para hospedagem). Ou seja, a inovação agrada. Neste cenário, também podemos incluir a Netflix, o Spotify e as Startups que reúnem criação e conteúdo específicos e compartilham para públicos determinados. As próprias redes sociais se encaixam neste fenômeno que vende inter-relação por meio do compartilhamento de ideias e ações cotidianas.
Espírito coletivo
Mas por que essa onda está em ascensão a ponto de mudar a cultura, o comportamento e a forma de consumo da população? Justamente porque a tecnologia facilitou a união das pessoas em torno de um objetivo/gosto/projeto/interesse em comum, a troca de experiência e de vivência humana que aproxima um do outro. Com isso, há uma consciência maior do espírito coletivo e democrático. As pessoas começam a enxergar que o compartilhamento de serviços, de relações, de ideias e de projetos podem facilitar a realização, encurtar caminhos e baratear custos.
E se esta onda for aplicada na política?
É justamente o que propõem os chamados mandatos compartilhados. Já ouviu falar? A iniciativa une duas ou mais pessoas em torno de uma proposta de candidatura para o legislativo, escolhe uma delas como representante parlamentar do grupo, a filia a um partido conforme a lei eleitoral determina e, caso eleito, divide o mandato conquistado com todos os envolvidos. Ou seja, o mandato não é só do eleito e as decisões serão tomadas em conjunto.
A ideia é uma grande inovação política baseada no compartilhamento do poder, na transparência e na vinculação contínua entre representantes e representados. Você já pensou como votaria se tivesse poder de voto nas pautas de interesse público na Assembleia Legislativa do Estado, no Congresso ou no Senado Federal?
Representatividade
O propósito é este mesmo: ampliar o conceito de representatividade na política e aumentar a participação popular. Enquanto em um mandato tradicional o legislador tem a liberdade de votar de acordo com seus interesses e consciência, no mandato compartilhado o legislador consulta as pessoas antes de definir seu posicionamento frente a matérias legislativas. Assim, a vontade das pessoas determina o posicionamento e voto do legislador.
Experiências no Brasil
No Brasil, o mandato compartilhado nasce de um compromisso político entre o parlamentar eleito e o grupo que o apoia. Isso porque, apesar de não haver impedimento, a legislação eleitoral trata a candidatura como um ato individual.
Este novo conceito que acompanha os avanços tecnológicos e a mudança de cultura está presente em todo o mundo, em países como Argentina, Austrália, Suécia e Estados Unidos. No Brasil, nas eleições dos anos de 2012, 2014, e 2016, 67 entusiastas do mandato compartilhado concorreram a cargos de legisladores para mandatos de Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, em 46 cidades, 11 estados, representando 19 partidos políticos distintos. Juntos, somaram 256.011 votos válidos. Destes, 14 candidatos foram eleitos em quatro estados diferentes.
CoDeputado
Como especialista em gestão pública, pesquisador e idealizador do projeto de mandato compartilhado aqui em Santa Catarina (CoDeputado), não tenho dúvidas de que essa inovação é a forma mais plural e transparente de participação popular, capaz de provocar grandes mudanças no sistema político brasileiro. E ela veio para ficar! Isso porque, quando o povo de fato participa da gestão pública, não há governo, nem agente político capaz de transformá-lo em refém.
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