Ansiedade em tempos de pandemia
Preocupação excessiva, insônia, medo irracional. Ela chega devagarinho, mas quando você percebe, já está lá, tomando conta da sua mente. Agora, são dois males invisíveis: a pandemia e a ansiedade. Um deles é a ameaça e o outro é um estado aversivo causado pela ameaça.
A ansiedade tem atingido cada vez mais pessoas e se manifesta de várias maneiras: pensamentos excessivos e muitas vezes negativos, preocupação exagerada, estado de hipervigilância, irritação frequente, insegurança, paranoia. Além disso, há também sintomas fisiológicos, como falta de ar, suor excessivo, coração disparado, entre outros. Em meio à situação pela qual o mundo está passando, com a pandemia do coronavírus, a ansiedade é uma grande inimiga.
Conforme disse a psicóloga blumenauense Caroline Busarello Bruning ao Mesorregional, a ansiedade é o que move as pessoas e oferece motivação para que realizem seus afazeres do dia a dia, porém, ela desanda quando o indivíduo começa a ficar em um estado de alerta excessivo e desenvolve determinados comportamentos.
“O grande cerne da ansiedade é a necessidade de ter controle“, diz a psicóloga. Ela explica que o coronavírus é um grande problema, que ataca a ansiedade, porque não se sabe exatamente o que ele é e não é possível vê-lo, o que faz com que a sensação de controle da situação seja perdida. “As pessoas acabam sofrendo com a situação do vírus, primeiro, porque a gente está falando disso 24h por dia, não tem um grupo de WhatsApp que você entre que não está divulgando notícias que nem sabem direito de onde vem“, destaca.
Enquanto comenta sobre o fato de a população estar imersa em notícias – muitas delas falsas – a respeito do Covid-19, a psicóloga menciona um fenômeno chamado ‘comportamento de manada’. Trata-se de situações em que indivíduos de um grupo reagem todos da mesma maneira, embora não exista uma direção planejada. Esse fenômeno é visto atualmente quando as pessoas esgotam os estoques dos supermercados e compram produtos, como papel higiênico, exageradamente, sem nem mesmo saber o porquê, apenas seguindo o que muita gente está fazendo.
O que move essas pessoas é o medo, é não saber o que está por vir. Embora o medo desempenhe um papel essencial à vida, ele pode se tornar nocivo. “O medo, na verdade, é o que evita que a gente faça um monte de bobagens […] O medo é aquele freio que a gente precisa pra garantir a nossa sobrevivência […] Se eu fico o tempo inteiro vendo pessoas me dizendo, a internet me dizendo como é grave, como é perigoso, e eu não vou atrás de outras notícias – e se vou, vou geralmente atrás daquelas que confirmam minha paranoia – o meu medo vai aumentar, aí meu medo passa a ser um medo não produtivo” explica Caroline.
A psicóloga menciona que a cidade de Blumenau pode sofrer um estresse pós-traumático por conta das situações vivenciadas em épocas de enchentes. Diante de acontecimentos assim, as pessoas tendem a acumular produtos, muitas vezes dos quais nem consomem, para sentir alguma segurança. Nesses momentos, a ansiedade fala mais alto e guia as pessoas, mesmo sem ter pra onde guiar.
“Muitas pessoas, certamente, estão desenvolvendo até sintomas psicossomáticos. O medo de eu estar doente é tamanho que eu começo talvez a desenvolver uma tosse, desenvolver uma febre” diz a psicóloga. Embora a recomendação seja de que a população fique em casa, medida necessária para não sobrecarregar hospitais e unidades de saúde, há quem procure por esses serviços na incidência de qualquer sintoma.
“O que você precisa é tentar se manter realista. […] A gente tem que ser realista com a ideia de que pode ser que a gente vai ficar em casa mais dias do que a gente gostaria e aceitar que as coisas não estão dentro do nosso controle. A verdade é que você nunca tem controle de nada. Mas por ser uma coisa que veio muito rápido, que a gente não conhece, que a gente ainda não tem um antídoto e todo mundo tá falando, tá gerando um pânico desproporcional. “
Caroline Busarello Bruning, psicóloga
A recomendação para lidar com a ansiedade nesses tempos difíceis é procurar se manter informado, mas não passar o tempo inteiro fazendo uso do celular ou lendo a respeito do assunto. Afinal, como reforça Caroline, a vida continua acontecendo. “O fato é: a gente não sabe exatamente o que tá acontecendo. Nos mandaram esperar, então é isso que a gente pode fazer”.
O importante neste momento é tomar os devidos cuidados, ficar em casa e cumprir com as recomendações do governo, mas ter em mente que essas medidas são apenas para prevenir, para que as coisas possam voltar ao normal o quanto antes.
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