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As lições deixadas peça greve dos caminhoneiros

Por Leonardo Secchi, colunista do Notícias Vale do Itajaí:

 

Por maior que seja o dissabor, sempre temos a chance de obter algum aprendizado com ele. De certa forma, é com isso que o país está convivendo agora, depois de encerrada a paralisação pelos caminhoneiros. Por mais solidária que a população brasileira tenha sido com todo o movimento, o certo é que ele trouxe, além de aprendizados, uma porção de prejuízos econômicos que só serão devidamente avaliados ao longo do tempo.

 

Primeira

A primeira lição que devemos tirar é que tudo o que fazemos, mesmo com a maior boa vontade, sempre trará consequências e, muitas vezes, podem ser bem desagradáveis. Foi o que aconteceu com o generoso projeto de financiamento da nova frota nacional, pelo BNDES, nos governos Lula e Dilma. Para uma economia que cresceu durante aquele período 11%, a frota de caminhões cresceu 40%. Haja frete para tanto caminhão! Como ainda está para nascer o gestor ousado que revogará a lei da oferta e procura, em poucos anos o pobre caminhoneiro estaria fazendo fretes com preços muito abaixo do custo…

 

Segunda

Some-se a isso uma oscilação do preço internacional do barril de petróleo: na época da euforia petista, o preço do barril estava em torno de US$ 40; no auge da desilusão dos caminhoneiros, em plena paralisação, o mesmo barril de petróleo já custava o dobro, US$ 80. Isso tudo com o preço real do frete em declínio e tendo as últimas prestações do financiamento do veículo a pagar. A própria Petrobrás, refém da oscilação internacional do preço do petróleo, com sua política de ajustes diários dos preços do combustível para as distribuidoras, jogou a última pá de cal em todo o sistema de transportes de cargas do país.

 

Terceira

A terceira lição que aprendemos é que nosso modal de transporte de cargas no Brasil é excessivamente rodoviário, com as ferrovias totalmente sucateadas e as hidrovias muito mal utilizadas. Quando param de rodar os caminhões em nosso país, não sobram alternativas para se manter o abastecimento das cidades e a vida do cidadão entra em colapso. Mesmo com uma considerável malha ferroviária que existia no Chile, em 1973, foi só os caminhões deixarem de abastecer o país e o governo Allende caiu, seguido depois por uma longa ditadura, do general Pinochet.

 

Lição especial

Há uma lição especial que precisamos aprender depois dessa experiência, que foi vivenciada pela população como um misto de ousadia e catarse. É a lição de casa que devemos levar para as urnas nas eleições de outubro: já estamos maduros o suficiente para não embarcarmos em qualquer conto do vigário. Não existe almoço grátis e se o tal almoço for oferecido, é porque tem alguém pagando. É hora de cobrar dos candidatos não apenas aquilo que eles pretendem fazer, mas, especialmente, como eles pretendem fazer e de onde vão sair os recursos. Antes de votar, é preciso escutar atentamente os discursos e contradições de cada um e analisar criticamente as propostas. E votar, sim! Porque a democracia ainda é a nossa melhor opção!

 

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