Boate Kiss: 10 anos depois o caso segue sem nenhum réu responsabilizado
Nesta sexta-feira (27) o incêndio da boate Kiss completa dez anos. A tragédia que vitimou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos ainda comove o Brasil. Isso porque até hoje, nenhum réu foi responsabilizado.
Quem são os acusados?
Os sócios da boate Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos; e o auxiliar Luciano Bonilha Leão foram acusados de homicídio pelo Ministério Público do Estado (MPE). Em 2021, eles foram condenados pelo Tribunal do Júri a penas de 18 a 22 anos de prisão. Sob o argumento de descumprimento de regras na formação do Conselho de Sentença, o Tribunal de Justiça do estado anulou a sentença e revogou a prisão em agosto do ano passado. O MPE recorreu da decisão.
Em entrevista para a Agência Brasil, o delegado regional de Santa Maria, Sandro Luís Meinerz, que conduziu a investigação do caso, lamenta a demora da justiça.
“Estamos fechando agora no dia 27, dez anos dessa absurda tragédia e, infelizmente, nenhuma resposta final desse processo foi dada para sociedade e, principalmente, para os pais e familiares dessas vítimas que morreram, fora aquelas que ficaram sequeladas”, disse.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul disse, em nota, que além dos quatro réus por homicídio, 19 pessoas, entre bombeiros e ex-sócios da boate, foram acusadas por crimes como falsidade ideológica e negligência.
Outras 27 pessoas foram denunciadas por falsidade ideológica, porque assinaram documento dizendo morar a menos de 100 metros da boate, o que foi comprovado como mentira.
A Tragédia
O drama começou por volta de três horas da manhã do dia 27 de janeiro de 2013, quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, acendeu um objeto pirotécnico dentro da boate, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
A espuma do teto foi atingida por fagulhas e começou a queimar. A fumaça tóxica fazia as pessoas desmaiarem em segundos. O local estava superlotado, não tinha equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes. Morreram pessoas que não conseguiram sair e outras que tinham saído, mas voltaram para ajudar.
O delegado Mainers, ainda contou que o pânico se instalou quando a fumaça se espalhou e a luz caiu. As pessoas não sabiam como fugir.
“E isso fez com que algumas pessoas enganadas por duas placas luminosas que estavam sobre os banheiros da boate corressem na direção dos banheiros e não na direção da porta. Então, houve um fluxo e um contrafluxo. Algumas corriam para o banheiro e outras tentavam correr na direção da porta de entrada. Isso fez com que muitas pessoas morressem porque algumas acabaram sendo derrubadas, algumas caíram”, relatou.
Além da falta de sinalização, quem tentava sair esbarrava nos guarda corpos que serviam para direcionar as pessoas ao caixa da boate, disse o delegado. “E os guarda corpos foram determinantes até porque nós encontramos corpos caídos sobre esses guarda corpos”, afirmou.
Vigília
Na noite de hoje (26) a Associação de Familiares de Vítimas de Sobrevivente da Tragédia de Santa Maria, em conjunto com o Coletivo Kiss: Que Não Se Repita e o Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria, fará uma vigília, a partir das 22h, em frente ao prédio em que funcionava a boate.
Minissérie da Netflix
Estreou nesta quarta-feira (25) com direção de Julia Rezende e Carol Minêm e roteiro de Gustavo Lipsztein, a minissérie ‘Todo o Dia a Mesma Noite’ que é inspirada no livro-reportagem (lançado em 2018), de mesmo nome, da jornalista Daniela Arbex, que também participa do projeto como consultora criativa. O elenco conta com Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm, entre outros. (Saiba mais aqui).
Série documental do Globoplay
Nesta quinta-feira (26) a série documental ‘Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria’ estreou no Globoplay. A produção acompanha a incasável luta por Justiça dos sobreviventes e dos pais das vítimas do incêndio. A série é conduzida e dirigida pelo repórter da TV Globo Marcelo Canellas, que passou a infância e a adolescência em Santa Maria, no Rio Grande Sul, tendo se formado na mesma universidade federal onde boa parte das vítimas estudava. A produção tem cinco episódios.
Fonte: Omelete/G1/Agência Brasil.
Foto: Polícia do Rio Grande do Sul/Divulgação.