Caso DJ Ivis exemplifica naturalização da violência contra mulher
A advogada Taiza Noelli de Melo Schmitz, colunista do Mesorregional aborda hoje um assunto que infelizmente está em alta e precisa ser combatido, a violência contra a mulher:
O caso do sujeito filmado agredindo a ex-mulher, de forma violenta, infelizmente é fruto de uma naturalização de agressão às parceiras em relacionamentos afetivos.
Historicamente, o Homem foi criado para constituir família, pensando no fato de que “Deus criou a mulher da costela de Adão” e fez dela uma ajudadora, considera-se que a mulher deve somar em um relacionamento.
Todavia, com a mudança de comportamentos principalmente durante a pandemia, em que casais passavam muito tempo juntos, sem o amor, sem o respeito, as mulheres em sua grande maioria mal sabiam quais os seus direitos que tinham frente à situações como essas ficavam à mercê de seus companheiros que deveriam cuidá-las, mas que apenas as maltratavam.
As imagens, gravadas por câmeras de segurança do apartamento em que o casal morava, em Fortaleza, mostram Iverson de Souza Araújo, mais conhecido como DJ Ivis, puxando o cabelo, dando socos e chutes na sua ex-mulher, Pamella Holanda. Os vídeos mostram os atos violentos na frente da filha e de outras duas pessoas. O vídeo foi divulgado nas redes sociais da vítima.
O que perturba vendo as imagens é que em diversas vezes existe outro homem que presencia as agressões e sai do ambiente como se tivesse dizendo isso não é comigo, não vou me meter.
É bem verdade, que em alguns casos, os que se “metem” depois acabam sendo cogitados como “errados” por que os casais acabam por reatar o relacionamento abusivo. E isso se dá por vários motivos, medo, chantagem, dependência econômica e financeira, filhos, pressão da sociedade, vergonha, entre outros.
Mas de qualquer forma, deve-se igualmente ter uma intervenção da população, dos familiares, dos vizinhos e essa mulher precisa ter todo uma estrutura.
Em que pese exista a Lei Maria da Penha, e apesar de ser uma das melhoras para o enfrentamento da violência no mundo, o país necessita de um sistema criminal que acolha as vitimas e lhes dê todo o suporte necessário.
Penso que a educação, deve ser o marco dessa mudança, a educação por princípios, ensinando a criança a tratar uma mulher com amor, delicadeza, sem machismo que a nossa população está impregnada.
Advogando na área da família e tendo contato com dezenas de mulheres, percebemos que até as vitimas se sentem culpadas de certas situações, pois isso está impregnado, enraizado no nosso DNA.
E este caso especifico é a repetição de tantos outros, noticiados, expostos nas redes sociais e denunciados, mas quantos outros ocorrem do nosso lado, na nossa família, embaixo do nosso nariz e mesmo assim não achamos que é violência doméstica.
Por sorte essa mulher sobreviveu, o que infelizmente em tantos outros casos não foi esse o desfecho.
Por fim, consigno para conhecimento alguns sinais do Relacionamento Abusivo nas Situações mais comuns
- Você sofre humilhação e julgamento por conta do seu passado. Ou seja, seu parceiro não gosta nada de relacionamentos anteriores, profissão e até comportamento sexual.
- Deixa de ter liberdade.
- Não pode ter relação com amigos ou família. Além disso, a situação pode ser um familiar te proibindo de alguma amizade.
- Sente uma constante culpa, porque as situações negativas são sempre sua culpa;
- Você não pode contrariar as vontades da outra pessoa. Ou seja, deixa de fazer o que quer para evitar brigas ou irritações;
- Tem opiniões invalidadas;
- Passar por traições, conflitos amorosos e outras situações do tipo;
- Constrangimento em público;
- Ciúmes obsessivo;
- As outras pessoas controlam a sua vida financeira, ou usam o dinheiro como forma de controle;
- Quando o outro quer sempre saber onde você está, pede localização, mensagem e ligações e quando você tem que enviar fotos que comprovem que você está falando a verdade;
- Sexualmente ter que atender a todas as necessidades e desejos do parceiro, mesmo sem vontade;
- Qualquer situação em que haja abuso de poder, racismo, preconceito ou machismo;
- Sentimento de posse por parte do outro;
- Você tem marcas de agressão, mesmo que não haja um ato violento como um soco, por exemplo, mas por te segurar com mais força;
- Situações de agressão física e punição ou ameaça através de violência;
- Constantemente ameaça que você não pode contar às outras pessoas o que acontece entre vocês.
Se você MULHER, está sendo vitima desse tipo de violência, denuncie: Ligue para 180, caso não se recorde ligue para o 190. Vá até a delegacia da Mulher mais próxima, procure um advogado ou psicólogo de confiança, enfim, só não espere ele mudar, pois infelizmente isso pode não acontecer.
Taiza Noelli de Melo Schmitz
OAB/SC 51.875 Advogada
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