Eleições nos EUA: Como funciona? O que houve de errado em 2020? Trump ainda pode vencer? Qual o efeito para o Brasil?
Artigo de Thiago Schulze, colunista do Mesorregional:
Como funciona?
Antes de tratar das eleições americanas de 2020, é preciso esclarecer o que poucos brasileiros conseguem entender: como funcionam as eleições nos Estados Unidos. Afinal, o Voto Popular vale? É o Colégio Eleitoral quem decide? Veremos.
A primeira coisa que precisamos entender é que os Estados Unidos são uma grande associação de estados-membros. Os estados possuem certa autonomia e são unidos pela administração de um ente federal.
Para entender melhor, em comparativo ao Brasil, imagine que você queira armazenar uma lata de milho e uma lata de ervilha em um mesmo recipiente. Quando você tira o milho e a ervilha da lata e junta tudo no recipiente, temos o sistema brasileiro de votação, já quando ambos são armazenados cada um em sua própria lata dentro neste mesmo recipiente, temos o sistema americano.
Os Estados Unidos possuem 50 estados e em cada um deles há uma votação separada onde, ao invés de escolher o presidente, o povo escolhe o PARTIDO que representará o respectivo estado no Colégio Eleitoral.
Cada Estado possui um número de delegados e cada delegado representa um voto no Colégio Eleitoral. O partido que vencer nomeia todos os delegados do respectivo estado.
Por exemplo, a Califórnia possui 55 votos (delegados) no Colégio Eleitoral. Se o Partido Democrata vence a eleição na Califórnia, podemos considerar computados 55 votos no candidato a presidente pelo Partido Democrata.
Os Estados Unidos possuem um total de 538 delegados e vencerá a eleição o presidente que obtiver primeiro 270 votos destes.
Qual o problema ocorrido este ano?
Até o fechamento da presente coluna, às 16:50h do dia 06/11/2020, a situação da votação era esta:
Falta concluir a apuração nos seguintes estados:
– Nevada (6 delegados): Biden vencendo por 49,7% a 48,1% (87% das urnas apuradas)
– Pensilvânia (20 delegados): Biden vencendo por 49,5% a 49,3% (98% das urnas apuradas)
– Geórgia (16 delegados): Biden vencendo por 49,5% a 49,3% (98% das urnas apuradas)
– Carolina do Norte (15 delegados): Trump vencendo por 50,1% a 48,7% (94% das urnas apuradas)
– Alasca (3 delegados): Trump vencendo por 62,1% a 33,5% (50% das urnas apuradas)
O resultado atual mostra uma virada de Biden na Pensilvânia e na Geórgia, o que por sinal já havia acontecido, nos últimos dias, também em Wisconsin (10 delegados) e Michigan (16 delegados). Portanto, já é possível afirmar com grande probabilidade que Joe Biden será o próximo presidente dos Estados Unidos, caso não ocorra recontagem.
Bom, o problema é que essas “viradas” aconteceram por conta do Voto de Correspondência (correios), uma exceção que os Estados Unidos abriram para as eleições deste ano, em razão do Covid-19. Estes votos foram os últimos a serem abertos e quando foram possuíam clara preferência a Joe Biden nestes estados citados.
Durante a campanha, os Republicanos, contrários às restrições da pandemia, fizeram campanha para que seus eleitores não votassem por correspondência, o que pode ter ocasionado tal desequilíbrio na contagem dos “postal votes”.
Ameaça de Trump:
Trump entende que houve fraude nas eleições, não aceitando as viradas sofridas durante a apuração e ameaça ir à Suprema Corte pedir a recontagem dos votos.
A Suprema Corte Americana possui apenas um precedente de pedidos do tipo, que ocorreu por Al Gore (Democrata), derrotado por Bush (Republicano) no ano 2000.
Al Gore havia pedido, à época, a recontagem manual dos votos da Flórida, visto que mais de milhares de cédulas de votação haviam sido ignoradas pelas máquinas de contagem. A Flórida possui 29 delegados e a diferença de voto popular dos dois candidatos no estado havia sido de apenas 900 votos, portanto a recontagem poderia facilmente mudar o resultado das eleições, que terminou em 271 para Bush e 267 para Al Gore.
A Suprema Corte da Flórida acatou a recontagem, porém a Suprema Corte dos EUA acabou interferindo quando o prazo para a recontagem manual destes votos se esgotou. O resultado, portanto, acabou se mantendo.
Entretanto, com experiência no assunto, uma recontagem em tempos atuais poderia realmente funcionar e até dar a vitória a Trump, resta saber apenas em quais estados Trump fará a petição, pois um só talvez não baste.
Qual efeito as eleições dos EUA podem gerar no Brasil?
A eleição de Joe Biden para presidente dos Estados Unidos deve ser temida até pelos críticos mais ferrenhos do governo Bolsonaro, afinal, enquanto Trump possui um bom relacionamento com nosso atual presidente, Biden não só o crítica, como também chegou a ameaçar, durante sua campanha, que aplicaria sanções diplomáticas no Brasil por conta das queimadas na região amazônica.
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