Especial Dia dos Namorados: o amor e a inclusão
Ao longo dos anos muitos filósofos, cientistas, artistas e escritores tentaram definir o que é o amor. São diversas pesquisas, dados, músicas, livros e poemas que falam sobre este sentimento tão forte, que consegue ser tão diferente e parecido ao mesmo tempo para cada pessoa.
Neste Dia dos Namorados, o Mesorregional preparou uma matéria especial sobre amor e inclusão. Entrevistamos o casal: Bruno Fiamoncini e Marcela de Souza, ambos surdos e atuantes na mesa diretora da Associação Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos – ABADA. Eles nos contaram sobre sua história de amor, suas dificuldades diárias e provaram que o amor não é preconceituoso, mas sim, extremamente, generoso e que a empatia é um sentimento poderoso. Vem conferir:
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Repórter Olga Helena: Para começar, cada um poderia contar um pouco de sua história?
Marcela de Souza: Eu nasci ouvinte, mas aos 6 anos de idade tive uma doença e, após ela, fui perdendo a audição. Minha família não sabe ao certo qual foi o motivo. Somos em cinco irmãos, sendo que três são surdos e dois são ouvintes.
Bruno Fiamoncini: Eu nasci saudável, minha mãe falava comigo normalmente e os médicos não perceberam nada de diferente comigo. Mas logo minha família começou a ver que tinha algo errado e me levaram ao fonoaudiólogo, eu havia nascido surdo. Minha família toda é ouvinte.
Olga: Como vocês dois se conheceram?
Marcela: Nos conhecemos ainda adolescentes. Eu tinha 20 e o Bruno 18. No começo éramos somente amigos, tomávamos café, interagíamos nos intervalos das aulas e fomos nos conhecendo, isso foi em 2005. Só começamos a namorar anos mais tarde, em 2011.
Olga: Então, foi um amor construído aos poucos?
Bruno: Sim, primeiro foi a amizade, éramos muito parceiros, confiávamos um no outro. Foi assim que começou, igualzinho ao filme ‘De Repente é Amor’ (filme de 2005 com os atores Ashton Kutcher e Amanda Peet).
Olga: Qual a maior dificuldade que vocês dois têm que enfrentar no dia a dia?
Marcela: Financeira, pois estamos tentando economizar. O Bruno me cobra bastante, pois eu sempre quero comprar besteiras, então às vezes brigamos por causa de comida (risos). Mas temos dificuldades normais, como a de qualquer outro casal. Eu sou a mais brava da relação, já o Bruno é controlado. Nós nos desentendemos, às vezes, é claro, mas logo conversamos e voltamos ao normal. Tentamos manter nossa saúde emocional e sempre conversamos, acho que isso é muito importante em uma relação.
Olga: Já sofreram preconceito?
Bruno: Quando saio sozinho para uma loja, muitas vezes as pessoas tem preconceito por eu ser surdo. Quando eu vou a um restaurante meu pedido vem errado, pois não conseguimos nos comunicar direito. Quando eu vou ao médico e ele dispensa o serviço de interprete porque não tem tempo para isso. É muito frustrante, pois eu não consigo entender tudo e as pessoas não tem paciência. Eu tenho essa dor, sabe?! As pessoas riem de mim.
Marcela: Pois é, uma vez fui a uma loja, peguei uma calça na mão e chamei a vendedora para pedir uma informação. Mas quando ela percebeu que eu era surda ficou toda confusa e desesperada, disse que ia chamar outra pessoa para ajudar, mas ninguém apareceu. Eu só queria saber o tamanho. O que falta é empatia. Muitas vezes eu me pergunto: “Por que as pessoas me tratam assim? Será que o problema sou eu?”. Nós não temos culpa de nascer assim.
Olga: Qual a importância da ABADA nas suas vidas?
Bruno: Eu sou da mesa diretora, ainda estou dando meus primeiros passos aqui dentro. As pessoas pensam que os surdos não são capazes de trabalhar. Nós provamos todos os dias que isso não é verdade. Tentamos quebrar essas barreiras apoiando projetos. Esse é o nosso papel aqui na ABADA. Somos o primeiros surdos à fazer parte da diretoria.
Marcela: Me orgulho de fazer parte da diretoria da ABADA, luto para que as pessoas possam aprender Libras (Língua Brasileira de Sinais) e para que tenham mais empatia. Temos vários projetos aqui, como fonoaudiólogo que estimula os surdos e os prepara para que possam participar ativamente da sociedade. Além disso, em 2020 criamos a Central de Libras, um serviço de interprete com agendamento prévio que atende de forma presencial ou remota. Assim, podemos usá-la em consultas médicas, entrevistas, boletins de ocorrências, atendimento bancário e em qualquer outra situação que precisarmos.
Olga: O relacionamento de vocês é diferente de alguma forma por conta da surdez?
Marcela: Não, casal é casal. Somos muito companheiros um do outro, mas mesmo assim muito diferentes. Eu sou muito vaidosa, comunicativa e expansiva, o contrário do Bruno. Eu incentivo ele a se abrir. Estamos sempre tentando alcançar um equilíbrio.
Bruno: Pois é, eu sou mais tímido, já a Marcela é aberta. Temos gostos diferentes, enquanto eu curto filmes de ação, ela ama os de suspense e séries. Nós somos muito unidos e estamos sempre pregando peças um no outro, de dar susto, por exemplo (risos).
Olga: Conte algo que você ama no seu parceiro.
Marcela: O Bruno é calmo e tranquilo. Nesses 11 anos de relacionamento ele sempre procurou me entender. Ele é romântico, gosta de aprender e me ajuda com muito amor. Ele ama música e é muito poético. Aprendemos muito um com o outro. Te amo!
Bruno: Vejo na Marcela todo o dia muito amor. Nos comunicamos muito. Ela é vaidosa. Estamos sempre juntos, comemos, passeamos, tentamos sempre sair da rotina. Como a Marcela gosta muito de livros e café, vamos à bibliotecas e livrarias. Eu só amo muito ela.
Durante toda a entrevista a interprete Yasmim Feitosa da Central de Libras, nos acompanhou com muita atenção e carinho. Por isso, o Mesorregional agradece à Yasmim e a todos da ABADA, pessoas que lutam diariamente para que os surdos tenham um lugar na sociedade. Estendemos o agradecimento à esse casal tão lindo e amoroso, Marcela e Bruno, que são as estrelas desta matéria. Saímos da ABADA cheios de amor e de projetos de parcerias futuras com a instituição. Que o futuro possa, realmente ter mais amor e inclusão. Feliz Dia dos Namorados!
Redação e entrevista de Olga Helena de Paula.
Imagens e edição de Wellington Civiero.