Estudo aponta aumento de letalidade após variante brasileira
Um estudo feito por pesquisadores do Brasil, da Itália e dos Estados Unidos apontou um aumento da letalidade do coronavírus (Sars-CoV-2) paralelamente à difusão da variante P.1, que teria surgido em Manaus e é considerada mais transmissível que o patógeno original.
A pesquisa está disponível na plataforma MedRxiv, que reúne estudos ainda não revisados pela comunidade científica, e é assinada por Maria Helena Santos de Oliveira, do Departamento de Estatísticas da Universidade Federal do Paraná; Giuseppe Lippi, do Departamento de Bioquímica Clínica da Universidade de Verona, na Itália; e Brandon Michael Henry, do Instituto do Coração do Hospital Infantil de Cincinnati, nos EUA.
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O estudo analisou 553.518 casos do novo coronavírus registrados no Paraná entre 1º de setembro de 2020 e 17 de março de 2021 para avaliar as tendências em diferentes grupos etários – nesse período, foram contabilizados 8.853 óbitos por Covid no estado.
Segundo os pesquisadores, todas as faixas de idade apresentaram queda ou estabilização na taxa de letalidade (CFR, na sigla em inglês) entre setembro e janeiro, mas, a partir de fevereiro de 2021, essa tendência se inverteu. “Todos os grupos acima de 20 anos mostraram aumentos estatisticamente significativos na CFR quando diagnosticados em fevereiro de 2021, ao contrário de janeiro de 2021”, diz o documento.
Entre pacientes de 20 a 29 anos, a taxa de letalidade mais que triplicou, passando de 0,04% em janeiro para 0,13% em fevereiro.
Também houve aumentos expressivos nos grupos etários de 30 a 39 anos (de 0,17% para 0,32%), de 40 a 49 anos (de 0,43% para 0,90%) e de 50 a 59 anos (de 1,17% para 2,10%).
Já na faixa de 60 a 69 anos, a CFR passou de 4,44% para 5,16%; no grupo de 70 a 79 anos, de 9,18% para 12,10%; e nas pessoas com 80 anos ou mais, de 20,33% para 23,91%.
“Essas descobertas preliminares sugerem aumentos significativos na CFR em adultos jovens e de meia idade após a identificação de uma nova cepa do Sars-CoV-2 em circulação no Brasil [a P.1], e isso deveria levantar alarmes de saúde pública, incluindo a necessidade de intervenções locais e regionais mais agressivas e de uma vacinação mais rápida”, dizem os pesquisadores.
A variante P.1, identificada pela primeira vez no Japão em pacientes provenientes de Manaus, contém mutações na proteína “spike”, espécie de coroa de espinhos usada pelo Sars-CoV-2 para atacar as células humanas.
O estudo menciona reportagens que apontam um aumento das infecções e das mortes entre grupos mais jovens no Brasil, porém esse movimento acontece paralelamente ao colapso de hospitais por todo o país, o que levou a óbitos de pacientes que sequer chegaram a receber um tratamento adequado.
“Durante um surto, mesmo em estudos clínicos bem desenhados, pode ser difícil distinguir entre um verdadeiro aumento na virulência de um patógeno versus um aumento da pressão nos hospitais, leitos de terapia intensiva e outros equipamentos de saúde, resultando em piores desfechos clínicos”, diz a pesquisa.
No entanto, o estudo ressalta que é “razoável supor que o aumento da transmissibilidade de uma nova cepa pode resultar em sobrecarga do sistema hospitalar” e que o crescimento na taxa de letalidade “coincidiu com uma queda constante de dois meses nos casos no Paraná”.
Foto: Marcelo Seabra / Ag. Pará (Arquivo Mesorregional)