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Jornal Mesorregional: Por que há cada vez mais vegetarianos e veganos no Brasil?

Há uns cinco anos, eu assistia pela primeira vez o documentário ‘Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade’ para um trabalho da faculdade. Com direção e roteiro de Kip Andersen e Keegan Kuhn e produção executiva de Leonardo DiCaprio, o filme mostra como a agropecuária é a maior responsável por dizimar os recursos naturais do planeta e porquê isso é ignorado pelos grupos ambientalistas. A ideia do documentário surgiu após Andersen descobrir que a agricultura animal tem emissão de gases superiores a todo o setor de transportes (carros, caminhões, trens, navios e aviões), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Depois de assistir à produção, decidi virar vegetariana e mais tarde os meus pais também optaram por abdicar da carne.

Como uma família totalmente vegetariana, estamos sempre buscando novas opções e produtos à base de planta para agregar no nosso cardápio. No início era muito difícil, não achávamos nada no mercado e a substituição era complicada e baseada em carboidratos, legumes e saladas. Entretanto, no último ano temos notado uma grande mudança no mercado vegano. Em supermercados agora encontramos, em uma pequena ala nos congelados, itens veganos e vegetarianos para consumo. Os valores ainda são salgados, mas as opções estão cada vez mais variadas: quibe, coxinha, hambúrguer, carne moída, almondegas e aí vai.

Segundo uma pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência em abril de 2018, 14% da população brasileira se declarou vegetariana. O que representava quase 30 milhões com esta opção alimentar no país. Se compararmos esses dados com a pesquisa anterior realizada em 2012, houve um crescimento de 75%, quando a população que se declarava vegetariana era apenas de 8%.

No que tange a alimentação vegana, não há pesquisas específicas no Brasil sobre o tema. Mas a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) considerou porcentagens em países que fizeram esse estudo. Como nos EUA onde 50% (1,68 milhões) dos vegetarianos se declararam veganos segundo a pesquisa do Instituto Harris Interactive. E do Reino Unido, onde esse número chega a 33% dos vegetarianos (1,68 milhões) de acordo com o Ipsos MORI Institute. Adotando a porcentagem mais conservadora (33%), dos 30 milhões de brasileiros vegetarianos, cerca de 7 milhões seriam veganos, em 2018.

Mas porque as pessoas escolhem este tipo de alimentação?

Os motivos podem variar entre ética, saúde, meio ambiente e sociedade, já que a pecuária contribui para o desperdício global de alimentos, uma vez que são consumidos de 2 a 10 Kg de proteína vegetal (por exemplo, soja) para produzir apenas 1 Kg de proteína de origem animal. A SVB destaca que a principal motivação de adoção do vegetarianismo é a ética, já que mais de 10 mil animais são abatidos por minuto no Brasil para a produção de carnes, leite e ovos. A maioria deles são frangos, porcos e bois – animais que têm uma complexa capacidade cognitiva e sentem dor, sofrimento e alegria da mesma forma que os cães e gatos que temos em casa.

O mercado vegetariano em Blumenau

Em Blumenau, o consumo de itens de origem vegetal vem crescendo cada vez mais. Prova disso, são os restaurantes e lojas específicas de produtos vegetarianos e veganos que observaram suas vendas crescerem ao longo do último ano.

Quem está apostando no mercado vegano é Mauricio Nicolodelli Junior da Funghi do Vale, ele explica que a empresa inicialmente atendia somente Pessoa Jurídica e tinha pouca variedade de produtos. Com a pandemia as vendas caíram consideravelmente, foi onde resolveram se reinventar e apostar no consumidor final através do delivery. “Pensamos: “O cliente não pode sair de casa, e se ele quiser se arriscar mais na cozinha e queira experimentar nossos cogumelos? ”. Essa ideia foi o que nos salvou, o pessoal aceitou muito bem nossos produtos e conseguimos nos manter no mercado. E hoje todos os nossos produtos são 100% a base de plantas”, conta.

“Comparando as vendas do mesmo período de 2021 a 2022, crescemos 31% em faturamento. Analisando um cenário global, pesquisas mostram o maior interesse da população nos alimentos ‘plant based’, tanto ‘in natura’ quanto os processados. É um mercado em constante evolução, muita pesquisa está sendo dedicada para criação de novos produtos e grandes marcas e pessoas estão investindo neste segmento”, ressalta.

Cogumelos na Feira

Márcia Leite, produz artesanalmente e comercializa os produtos da Casa Kunvivas na Feira Livre Municipal de Blumenau, na Feirinha da Alameda e na SoulRiso Movimento do Novo Artesanal. A ideia nasceu com o propósito de apresentar os benefícios dos cogumelos aos blumenauenses. “Começamos nossa empreitada vendendo cogumelos frescos, mas o mercado (Blumenau) foi nos mostrando que eles não faziam parte do cardápio semanal. Mas mantivemos o foco nos cogumelos e começamos a criar alimentos prontos para comer, na intenção de tornar o cogumelo mais prático para a mesa dos blumenauenses. E deu certo!”.

“Nossos pratos são preparados sem nenhum elemento de origem animal, nominamos nossos produtos de Plant Based, que significa alimento natural e sem produtos de origem animal”, comenta. Márcia também frisa que os alimentos veganos não são mais entregues como uma opção de alimentação saudável, pois muitos deles estão longe de ser. “Na Casa Kunvivas nos balizamos nos pilares: Sabor, Saúde, Praticidade e Sustentabilidade. Nós acreditamos em uma alimentação rica em nutrientes e sem nenhum ingrediente de origem animal. E é o que fazemos por aqui”, destaca.

“Neste ano tivemos apenas três pontos de vendas e estes já nos mostraram que temos muito a crescer. Percebemos que temos sazonalidade, que ainda a maioria dos blumenauenses não nos conhece e mesmo assim, as vendas foram bem positivas entre os meses de abril e setembro. A recompra e a indicação é uma constante, e isso nos diz que estamos no caminho certo”, finaliza.

A culinária vegana

Júlia Priess Niehues, atua como cheff vegana desde 2015, segundo ela é preciso ter muito amor pela área e trabalhar com proposito, sabendo que as escolhas alimentares podem fazer a diferença. “É incrível sentir como cada vez mais pessoas estão simpatizando com esse tipo de alimentação, tanto que a maioria dos clientes que atendo não são vegetarianos mesmo. Mas buscam uma alimentação mais leve, limpa e gostam, de vez ou outra, de contribuir para a causa animal/ambiental”, comenta.

“O foco do meu trabalho é fazer pratos muito saborosos. De forma que até quem não é vegetariano coma e se sinta bem, e não tenha aquela percepção: “Ah, pra vegano está bom”. Mas sim: “Eu quero um, uau que maravilhoso! E ainda é vegano.”, salienta.

Júlia é formada em gastronomia, mas tudo o que aprendeu sobre a culinária vegana foi de forma autodidata. “Na faculdade não aprendi nada específico para vegetarianismo. Então, foi muita prática, erros e acertos e dedicação. Hoje já são sete anos que trabalho na área específica de culinária vegana”, completa.

*Está matéria também está disponível na nossa versão impressa no Jornal Mesorregional.

Foto: Divulgação.

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