Jornal Mesorregional: Precisamos continuar falando sobre pobreza menstrual no Brasil

Menstruação, algo tão normal e natural do corpo feminino, mas que ainda é tratada como tabu. Apesar do tema ser motivo de desconforto em muitos círculos sociais, ele precisa ser discutido, principalmente, no âmbito político. Esse é um problema social e deve ser tratado como tal. Uma pesquisa apontou que 52% das mulheres no Brasil já sofreram com pobreza menstrual e 35% afirmam que a compra de itens de higiene pessoal pesa na renda. Esses dados são da pesquisa, “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violações de Direitos”, lançada em maio de 2021 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Imagine não ter acesso a um item de higiene tão necessário como esse e não poder estudar ou trabalhar. Pois é isso que acontece com 4 milhões de meninas que não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. A situação só piora, pois das mesmas, 713 mil vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em suas próprias casas. Cerca de 2,9 milhões de estudantes do ensino fundamental, médio ou superior já faltaram pelo menos uma vez por não terem acesso a itens de higiene menstrual.

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Dados do Instituto de Pesquisa Locomotiva e a marca de absorventes Always, apontam que é comum que essas pessoas recorram a retalhos de pano, roupas, miolo de pão e jornais para conter o fluxo menstrual. Entretanto, o item mais usado é o papel higiênico, pois cerca de 83% das mulheres o utilizam para conter o sangramento.

Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual

Em março de 2022, o Diário Oficial da União tornou pública a Lei 14.214/2021, que criou o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. Apesar dos vetos do presidente Jair Bolsonaro, o programa foi restaurado e agora estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias, têm o direito de receber absorventes de forma gratuita.

Na prática, a sanção altera a Lei nº 11.346/2006 e determina que as cestas básicas entregues pelo Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), deverão conter como item essencial o absorvente higiênico feminino.

Essa lei foi sancionada após muita luta e pressão de mulheres da política e da sociedade de todo o país. Mulheres que colocaram em prática o termo ‘sororidade’ e lutaram e continuam batalhando pelos direitos femininos.

Ações ajudam a fazer a diferença: calcinha menstrual na Febratex

Este ano, o Mesorregional fez a cobertura da Febratex e o tema pobreza menstrual estava presente. Se você fosse em qualquer banheiro feminino do evento, encontraria uma arte adesivada no espelho e a cada foto postada no story do Instagram com a moldura, uma calcinha seria doada para combater a pobreza menstrual no Brasil.

A ação foi uma iniciativa das empresas Latina Têxtil e Diklatex. O intuito era o de lançar no mercado a tecnologia Undertech (primeira tecnologia para calcinhas menstruais feita 100% de tecido) e ainda alertar o público sobre a causa. Para alcançar o engajamento de pessoas de fora da feira, outra ação foi feita: a cada 10 compartilhamentos em story do post oficial, uma calcinha menstrual também seria doada.

O que eu posso fazer para ajudar a mudar esse cenário: Manual da Ativista Menstrual

A Loja Herself, responsável por cocriar a primeira calcinha absorvente menstrual reutilizável, montou um manual para auxiliar no combate à pobreza menstrual. A lista é bem interessante e algumas das dicas podem mesmo ser aplicadas no nosso dia a dia. Confira:

1- Fale as palavras “menstruação”, “período menstrual”, “absorvente”, “vagina”, “vulva” etc: Não usar eufemismos faz com que o assunto seja mais natural e facilita os diálogos entre a sua rede;
2- Doe protetores menstruais para mulheres que precisam: Que tal deixar absorventes descartáveis na sua bolsa e doar para mulheres e meninas em situação de rua?;
3- Organize uma rede de distribuição de protetores menstruais: Além das doações pontuais, você pode ampliar o impacto conversando com a sua comunidade, associação de bairro ou ONGs para criar pontos de coleta de absorventes;
4- Cobre políticas públicas: com as Eleições 2022 se aproximando, aproveite para escolher pessoas que se preocupem com a causa;
5- Compartilhe e proponha reflexões na sua rede: A menstruação ainda é um tema tabu e invisível para muita gente. Por isso, trazer à tona o assunto como pauta de saúde pública é essencial. Compartilhe informações e abra diálogos com a sua rede.

Foto: Olga Helena de Paula/Mesorregional.