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Por negligência do Estado, situação do SAMU em SC já resulta em falta de atendimentos e até possíveis óbitos

As condições das viaturas e da estrutura do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Santa Catarina já está beirando ao caos e relatos apontam que até mesmo mortes podem ter ocorridas – pela falta de viaturas em condições que favoreçam o atendimento à população – por demora no atendimento, justamente por baixa de viaturas.

Um exemplo prático dessa situação é o veículo da Unidade de Suporte Avançado (USA) de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, que está baixada (na oficina) há dias, por problemas mecânicos e sem previsão para retorno. Os relatos são de trabalhadores do Serviço e o Mesorregional indagará mais uma vez ao Estado e também à empresa que possuí a concessão do SAMU em Santa Catarina (SC), a OZZ Saúde.

A precariedade das viaturas não é uma exclusividade das más condições de trabalhos dos médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e motoristas socorristas, que incansavelmente e insistentemente estão trabalhando dioturnamente para atender a população em plena pandemia de Covid-19, que os tem exigido ainda mais. As demandas vão desde equipamentos básicos para o atendimento, até o direito ao recebimento direitos trabalhistas, como situações em que médicos estão a cerca de 3 anos sem gozar das férias.

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O Mesorregional já pautou diversas vezes os descasos da Secretaria do Estado da Saúde com esses profissionais e com o Serviço, além de situações de escarnio praticada pela OZZ. Mas não estamos sozinhos, na semana passada o colega Ananias Cipriano, do portal SC em Pauta trouxe situações registradas no Norte de SC, onde os profissionais denunciam até mesmo falta de equipamentos de proteção individual e se organizam para entregar uma denúncia ao Ministério Público apontando as seguintes situações:

– Falta de materiais básicos em viaturas de Suporte Avançado (EPIs, tubo orotraqueal…);
– Telefone de Centrais Regionais de Emergência não grava as ligações;
– Viaturas sem manutenção (amortecedor, pneus…) e sem seguro;
– Centrais regional com cadeiras velhas e quebradas;
– Profissionais sem seguro de vida;
– Equipes sem treinamentos, atualizações e/ou reciclagens;
– Médicos sem acesso ao mapa do programa do SAMU na Regulação;
– Unidades sem ventilador mecânico em plena pandemia;
– Sem reajuste salarial desde 2014 e acordo sindical desde 2012;
– Servidores desde abril/2020 trabalhando sem os depósitos do FGTS;
– Médicos há mais de 3 anos sem gozo de férias;
– Equipamentos em péssimas condições de uso, como cardioversores e oxímetros;
– Trabalhadores não recebem extra por feriados nacionais e municipais;
– Retirada do vale alimentação;
– Redução do valor do vale refeição;
– Redução do adicional noturno de 40% para 20%;
– Regiões sem viatura reserva;
– Sem o recebimento de hora-extra para profissionais que realizam a cobertura de plantões outros funcionários afastados;
– Alta rotatividade de servidores.

Os deputados estaduais Ivan Naatz (PL) e Neodi Saretta (PT), também entraram em contado com o Mesorregional, apontando que estão solicitando explicações do governador Carlos Moisés da Silva (PSL) e do secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro sobre o desleixo com o SAMU.

“A gravidade das denúncias em todo o estado, a precariedade dos serviços e o impasse entre governo e empresa que presta o serviço para o SAMU, precisam sair do papel.” pontou Naatz que ainda afirmou que “um pedido de instauração de inquérito do SAMU em Santa Catarina circulou na Alesc” mas que apenas ele e os deputados Jessé Lopes (PSL), Marcius Machado (PL) e o Sargento Lima (PL) assinaram o requerimento.

Já Saretta, que é presidente da Comissão de Saúde na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, afirmou que elaborou um documento, que foi encaminhado André Motta Ribeiro, pedindo a solução de diversas questões apontadas pelos trabalhadores. “Há uma serie de questões relacionadas ao SAMU e vêm relacionadas à administração da empresa que faz a gestão. Por isso elaborei um documento com as reivindicações que estão pendentes e precisam ser resolvidas” comenta Saretta, sem mencionar a não assinatura do documento para abertura de inquérito.

Más condições das viaturas podem ter contribuído para duas mortes nos últimos dias em cidades do Vale

No início da noite desta segunda-feira (31), uma Unidade de Suporte Básico teve falha mecânica durante um atendimento de um caso grave de Covid-19 em uma residência localizada na Rua Gustavo Zimmermann, no bairro Itoupava Central, em Blumenau. O paciente era um homem, de 60 anos. Seu quadro clínico foi rebaixando e não resistiu até a chegada da Unidade de Suporte Avançado que opera na cidade. Algumas pessoas ficaram revoltadas com a situação e acabaram descontando nas equipes de atendimento, motivo pelo qual a Polícia Militar foi acionada, para garantir a segurança dos socorristas.

Em Presidente Getúlio, cidade que faz parte da região onde a USA de Rio do Sul também atende, uma jovem de 22 anos, que contraiu coronavírus, acabou perdendo a vida justamente por que teria que ser transferida do Hospital e Maternidade Maria Auxiliadora de Presidente Getúlio para o Hospital Doutor Waldomiro Colautti, de Ibirama, onde há leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para atendimento de Covid-19, mas como a USA de Rio do Sul não pode fazer o transporte, a de Blumenau teve de deslocar para o Alto Vale, mas quando a equipe chegou ela já havia entrado em parada cardiorrespiratória e acabou morrendo por falta de recursos.

Por condições péssimas de manutenção e depreciação, viaturas já sofreram acidentes no Vale. Foto: Divulgação / SAMU
Viaturas novas ficaram ao relento e foram retiradas do Vale do Itajaí na surdina, após denúncias do Mesorregional

O secretário André Motta Ribeiro, esteve em Blumenau no dia 18 de fevereiro deste ano, mesmo dia em que uma viatura UTI Móvel que estava parada, ao relento, desde agosto do ano passado, foi retirada da cidade pela Secretaria de Estado da Saúde. Indagado sobre a situação, Motta Ribeiro ficou irritado e terceirizou a culpa para a burocracia e para fornecedores insumos para saúde estaria “se aproveitando da pandemia para elevar os preços de equipamentos.”

Ele justificou que as viaturas saíram de Itajaí de Blumenau, onde estavam, para serem utilizadas no transporte interhospitalar nas regiões da Grande Florianópolis e do Oeste, que eram epicentros da pandemia do novo coronavírus na época, em SC. Ao justificar as retiradas das viaturas do Vale, o secretário não conseguiu justificar a atual situação o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no Vale do Itajaí, dizendo que nesta região o sistema está robusto, bem distante do que a realidade do que afirmam e denunciam os profissionais.

Foto em destaque: Jefferson Santos / Mesorregional

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