Pseudo Desenvolvimento
Artigo enviado pelo empresário blumenauense, Ramon Aguiar Benedett:
Um dos grandes problemas do sistema político brasileiro é a falta de participação da sociedade civil na gestão governamental. Após as eleições, largamos toda a responsabilidade nas mãos dos políticos e deixamos com que façam o que bem entendem. Pouquíssimas vezes somos ouvidos. Tampouco temos um sistema eficiente de consulta popular, mesmo com toda a tecnologia atual, que funcione de forma orgânica, democrática, participativa e representativa do todo.
Os conselhos municipais são uma pequena forma de possibilitar a participação civil no planejar, pensar e gerir a cidade. Poucas cidades no Brasil possuem um conselho dedicado a pensar, defender e cuidar, por exemplo, de seu patrimônio histórico. Blumenau possui o COPE, Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado, composto atualmente por nove integrantes do Poder Executivo e oito integrantes da sociedade civil. Todos os projetos na cidade que envolvem edificações históricas e/ou seus entornos devem passar para análise do Conselho.
A atuação equilibrada e sensata nos últimos tempos vem engrandecendo sua importância para um desenvolvimento econômico e social equilibrado com a preservação do pouco que nos restou de patrimônio histórico edificado. E seu fim, por incrível que pareça, pode estar mais próximo do que gostaríamos ou merecemos.
Passaram-se poucas semanas da reunião em que o COPE se posicionou fortemente contrário ao estilo da construção de uma mega loja Havan no coração do Centro Histórico municipal, em terreno onde outrora foi o estádio do nosso saudoso BEC. Com participação de historiadores, arquitetos e urbanistas, engenheiros, turismólogos, empresários, dentre outros, ficou evidente que o projeto apresentado não está em nada sintonizado com seu entorno, com nossa história e com o que Blumenau merece. Ao final de inúmeras considerações trazidas por conselheiros e também por outros participantes, quando o projeto iria para votação, o presidente do COPE, Sr. Éder Boron, sugeriu ao proponente, representante do grupo Havan, que ele poderia retirar seu projeto antes da votação. O ato, que pareceu uma mera cordialidade do presidente Boron, pode ter sido na verdade um ato muito bem pensado e planejado.
Com o edital de convocação para a nova reunião do COPE a ser realizada logo mais às 14hs – quarta-feira, dia 28 de julho -, com o mesmo projeto da loja Havan em pauta, sem qualquer alteração, somada à mudança de alguns participantes da Prefeitura no Conselho, evidencia que tem algo sendo tramado nos bastidores e contra os anseios da sociedade.
Ressalta-se que foi considerado inadequado apenas o projeto arquitetônico, padrão das lojas Havan, para sua localização. Entretanto, em momento algum a rede Havan se mostrou solidária às aspirações do blumenauense apresentadas, até mesmo antes do projeto ir à votação. Não podemos aceitar argumentos de que nosso centro histórico já está mal preservado ou é pouco representativo para que construam o que quiserem e acabem de vez o que nos restou. O conselho deixou claro ser a favor de estimular o comércio e abertura de novos empreendimentos na região, colaborando com o aumento da circulação de pedestres, trazendo mais vida e reduzindo a insegurança. Se a loja Havan ou qualquer outra quiser se estabelecer em nosso centro histórico, será bem-vinda desde que respeite e ajuste o projeto ao entorno, a nossa história, a cidade que fomos, somos e a cidade que queremos ser.
Caso as suspeitas de “manipulação” da votação sejam confirmadas, com a troca de representantes da prefeitura no conselho, algumas entidades civis já manifestaram que devem abandonar o conselho. Perde a cidade, perde o cidadão, perde o futuro de Blumenau. São cidadãos comuns, que se dispõem a participar das reuniões em horários comerciais, sem interesses particulares, deixando de lado suas profissões, para colaborarem no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, respeitosa e equilibrada. São pessoas que sempre participaram e respeitaram as votações favoráveis ou não aos seus entendimentos, mas que não podem aceitar uma articulação duvidosa, com interesses suspeitos ao do bem comum.
Vejamos como irão proceder o prefeito Mario Hildebrandt e o secretário Éder Boron, se respeitarão a sociedade e sua já parca representatividade ou se irão usar de seu poder autoritário e se eternizarem como os coveiros do COPE.
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Foto: Reprodução / Projeto Havan