Tragédia e injustiça: a dor de pais em luto e os desafios no atendimento policial
Na manhã da última sexta-feira (6), uma tragédia abalou Blumenau: um bebê de apenas 25 dias perdeu a vida em sua residência, no bairro Itoupava Norte. O caso, inicialmente cercado de suspeitas, revelou-se uma morte acidental por afogamento com leite, conforme apontado pelo Instituto Médico Legal (IML). Apesar do esclarecimento posterior, a condução policial e os momentos de dor enfrentados pelos pais da criança levantaram questionamentos profundos sobre os procedimentos adotados em situações tão sensíveis.

O relato dos pais
Em busca de respostas e desabafo, os pais relataram ao Mesorregional a experiência dolorosa pela qual passaram. Segundo a mãe, o casal acordou cedo para a rotina diária e encontrou o bebê já sem sinais vitais. Em desespero, acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que, ao chegar ao local com uma Unidade de Suporte Básico, constatou o óbito. A partir desse momento, a família já começou a ser tratada como suspeita.
Eles descreveram que foram algemados, colocados em uma viatura e conduzidos à delegacia sob acusações de homicídio. Durante horas, relataram ter sido mantidos separados e submetidos a perguntas constantes que os tratavam como culpados, sem acesso a informações sobre o paradeiro das outras duas filhas e também do corpo do bebê. A mãe relatou estar descalça e sem poder comunicar familiares. “No momento mais difícil das nossas vidas, fomos tratados como assassinos!” desabafou.
“Fomos algemados e deixados com na delegacia com os pés algemados todo momento até chegar o resultado.” pontou a mãe, aos prantos. Além disso ela comentou que faz questão de relatar que o casal foi tratado “como culpados da morte do bebê pelo pessoal do SAMU também sendo que meu filho não tinha nenhum machucado.”
Apenas próximo ao meio-dia, com a conclusão do exame do IML, a verdade foi revelada: o bebê morreu devido a um afogamento acidental e a partir dessa informação os pais foram liberados da Central de Plantão Policial, mas segundo eles, sem quaisquer tipos de informações sobre o filho falecido e o paradeiro das filhas.
A posição das autoridades policiais
Procurada pela reportagem do Mesorregional, a Polícia Militar explicou que a condução foi baseada em relatos preliminares dos socorristas do SAMU e de vizinhos, que mencionaram ter ouvido gritos durante a madrugada e observado o pai, apavorado, com o bebê nos braços. Esses elementos, aliados à gravidade da situação, levaram os policiais a tratar o caso com suspeitas iniciais de violência.
A Polícia Civil, por sua vez, afirmou que sua atuação começa apenas após a entrega do caso pela PM e que está verificando os procedimentos adotados. A delegada regional destacou que a condução para esclarecimentos foi feita com base nas informações recebidas, mas que buscará todas as informações sobre o ocorrido para ficar a par da situação.
Reflexões necessárias
Casos como este revelam a complexidade do trabalho policial, especialmente diante de situações de possível violência contra crianças. Embora a ação rápida seja essencial para proteger vidas e esclarecer fatos, é igualmente crucial que os procedimentos sejam conduzidos com empatia e respeito às famílias, especialmente em momentos de luto extremo.
A abordagem enfrentada pelos pais levanta dúvidas sobre o preparo e a comunicação entre as forças de segurança, além de reforçar a necessidade de protocolos claros e humanizados para tratar casos de alta carga emocional. A situação também ressalta a importância de capacitação contínua, para que agentes consigam equilibrar o rigor da abordagem e das investigações com a dignidade das pessoas envolvidas.
Uma lição para todos
A tragédia desse bebê é um alerta para a necessidade de melhorar as práticas policiais e fortalecer o diálogo entre as instituições de segurança e a sociedade. A dor da perda já é insuportável para uma família; tratá-los como culpados sem evidências concretas apenas agrava um sofrimento que deveria ser respeitado e acolhido. Que esse episódio leve a reflexões profundas e ações concretas para evitar que, em meio à tragédia, vítimas se tornem alvos de mais injustiças, afinal de contas sabemos, por dados evidentes que as forças de segurança de Santa Catarina são consideras as melhores do Brasil.
Foto: Daniel Nebreda / Especial Mesorregional (Divulgação)