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Vereador Alemão estaria se tornando o que sempre repudiou?

Tecer críticas sobre um velho amigo é uma árdua e desconfortável tarefa, porém “puxões de orelha”, por vezes, podem dar fôlego a uma resiliência ainda desconhecida. Conheci o Vereador Alemão em 2016, período em que unimos forças para assolar o irresponsável mandato presidencial de Dilma Rousseff. Ainda naquele ano, lembro que foi candidato a vereador, contando inclusive com o voto deste colunista. Na ocasião, lamentamos juntos o infortúnio da derrota por tão poucos votos.

O tempo passou, veio o ano de 2020 e a persistência premiou o empresário com a tão almejada cadeira na Câmara de Vereadores de Blumenau. Seria a hora de transmutar os velhos vícios do recinto? De mostrar como é o tal do “fazer diferente”? De pôr em prática suas ideias antigas, tal qual a de extinguir os cargos de gabinete e até os salários de nossos camaristas municipais, assim como já foi um dia, desinchando uma adiposa despesa que perdura por muitos anos no legislativo blumenauense? Não, o que se viu foi a mais pura demonstração prática de um velho mantra político: “mandato não é campanha”.

A história começa no início de Junho de 2021, quando a CPI do Transporte Coletivo fora instaurada na Câmara de Vereadores de Blumenau de maneira distinta à que os vereadores da oposição, liderados nesta pelo Vereador Alemão, pretendiam. Na composição da Comissão, além do propositor, figuraram dois vereadores governistas: Marcelo Lanzarin (do partido do prefeito) e Alexandre Matias (do partido da vice-prefeita).

Pouco mais adiante, na data de 18/06/2021, o vereador Alemão resolve trocar seu chefe de gabinete. O novo funcionário é o advogado Marcelo Longen, professor na Uniasselvi e sócio-proprietário do escritório Gropp & Longen Advocacia. Trata-se de um experiente profissional das áreas Trabalhista, Administrativa e Empresarial. Uma nomeação aparentemente técnica.

Vinte dias mais tarde, em 08/07/2021, Alemão ingressa uma ação judicial¹ contra o presidente da casa legislativa (Egídio Beckhauser) e a câmara em si, na tentativa de alterar a composição designada para a CPI. A surpresa foi a advogada que sempre representou o vereador na ação: trata-se de uma funcionária da banca da Gropp & Longen Advocacia, cujo sócio-proprietário havia passado a ser o chefe de gabinete do vereador alguns dias antes. Entretanto, nas peças processuais conduzidas pela profissional não foram utilizados o usual timbre do escritório, tampouco o nome dos sócios apareciam na procuração, levando a crer que aquela havia sido uma contratação nominal da advogada, supostamente sem qualquer vínculo com o escritório de Marcelo Longen.

A CPI teve seu desfecho e o relator Alexandre Matias, como já era esperado, apresentou relatório que desagradava Alemão. Diante disso, este último resolveu apresentar seu próprio relatório, onde apontava críticas ferrenhas contra o Procurador Geral da Câmara, Ray Reis.

Antes de ser nomeado procurador-geral da casa, Ray era sócio do escritório de advocacia do filho do Vereador Ito, possuindo um vínculo muito forte com este outro legislador. Ito imediatamente tomou as dores do ocorrido e apresentou à imprensa uma denúncia sobre o chefe de gabinete de Alemão. O vereador do PL mostrou fotos de tela, vídeos e até a folha ponto de Marcelo Longen, desmonstrando que ele estaria supostamente realizando a atividade paralela de professor, durante o expediente legislativo, sem informar a casa e, portanto, sem sofrer qualquer desconto em sua remuneração.

Alemão subiu à tribuna e, quando todos esperavam uma defesa firme e contundente, o vereador acabou decepcionando boa parte de seu eleitorado ao usar da velha tática política de “espelhar a acusação”, apontando o dedo de volta ao acusador, tão utilizada pelos defensores de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment desta. O empresário dedicou a maior parte de sua fala à retrucar o denunciante com denúncias sobre o atual procurador da câmara, Ray Reis.

Não é a primeira vez que o Vereador Alemão se vê envolvido em confusão pelos funcionários de seu gabinete. Em fevereiro deste ano, após pressão midiática, acabou por exonerar o estagiário Willian Hoffmann, que responde a um processo criminal² por supostamente ter enganado funcionários da prefeitura de Rio do Sul e até do Ministério Público, se passando por agente do GAECO para obter acesso a documentos sigilosos em 2018.

As coisas não andam bem para o Vereador Alemão, talvez esteja na hora de colocar em prática suas ideias de campanha mais empíricas sobre a extinção dos cargos de gabinete, afinal de contas, sem funcionários, o vereador provavelmente não teria se envolvido em acusações como estas aqui citadas. Afinal, quando a zaga só faz gol contra, talvez seja melhor jogar sem zagueiros.

¹ Processo número 50230376920218240008.

² Processo número 0001263-95.2019.8.24.0054.

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